Atualizada às 9h11
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (28) a Operação Cash Delivery com o objetivo de colher provas da prática de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa atribuída ao ex-governador e candidato ao Senado, Marconi Perillo (PSDB), em colaborações premiadas de executivos da Odebrecht. São investigados os destinos de aproximadamente R$ 12 milhões.
A Operação Cash Delivery é um desdobramento das investigações da Operação Lava Jato e decorre de acordos de leniência e colaboração premiada firmados pelo MPF Federal com a Construtora Norberto Odebrecht e seus executivos. De acordo com o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) quando ainda era senador e, depois, também como governador, Marconi Perillo solicitou e recebeu propina no valor de R$ 2 milhões em 2010, e, R$ 10 milhões em 2014, em troca de favorecer interesses da empreiteira relacionados a contratos e obras no Estado de Goiás.
Estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços de Marconi Perillo. Por ser candidato, a lei eleitoral não permite que Marconi seja preso entre 15 dias antes e 2 dias após o pleito. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, defensor de Perillo, disse que vai se manifestar depois que conseguir falar com seu cliente.
A PF prendeu o coordenador de campanha do governador José Elinton (PSDB), o ex-presidente da Agência Goiana de Transporte e Obras (Agetop) Jayme Rincón, o filho dele, Rodrigo Godoi Rincón, o policial militar Márcio Garcia de Moura, o ex-policial militar e advogado Pablo Rogério de Oliveira e o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior. Já foram apreendidos cerca de R$ 80 mil na casa de Jayme Rincón e uma quantia ainda não revelada na casa do motorista dele.
Cerca de 65 policiais cumprem 14 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão temporária, expedidos pela 11ª Vara da Justiça Federal de Goiás, em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Pirenópolis, Aruanã, Campinas (SP) e São Paulo (SP).
Os envolvidos, entre eles empresários, agentes públicos e doleiros, responderão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Cronologia
A investigação teve início no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 09/06/2017. Com a renúncia de Marconi Perillo ao mandato de governador de Goiás, o caso seguiu para a primeira instância em virtude da perda do foro privilegiado e foi assumido pelo Núcleo de Combate à Corrupção do MPF em Goiás, em conjunto com a Superintendência da Polícia Federal em Goiás (PF) em abril de 2018, para obter provas que corroborassem as declarações dos colaboradores.
Em julho de 2018, a Justiça Federal autorizou acesso aos e-mails e aos extratos das ligações telefônicas dos investigados, bem como às suas respectivas localizações, com base em informações das antenas das operadoras de celulares (ERBs). Em agosto de 2018, foi autorizado judicialmente o compartilhamento e o uso, nas investigações, das provas obtidas nas 23a (Acarajé, que teve como alvo Maria Lúcia Tavares, principal encarregada do departamento de propinas da Odebrecht, denominado Setor de Operações Estruturadas) e 26a (Xepa) fases da Operação Lava Jato.
Corroboração
A partir da análise do material apreendido com Maria Lúcia Tavares e do conteúdo do seu depoimento, foi possível identificar que o codinome “Paulistinha” ou “Carioquinha”, que consta nas planilhas dos sistemas de controle de pagamento de propina da Odebrecht, como sendo o operador encarregado de entregar o dinheiro para Master, Padeiro, Calado ou Patati, codinomes usados para se referir a Marconi Perillo, era o doleiro Álvaro José Galliez Novis (proprietário da Hoya Corretora de Valores e Câmbio Ltda, com escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro).
Ouvido pela Polícia Federal, Álvaro Novis admitiu que era encarregado de providenciar a entrega do dinheiro e que, para isso, utilizava as transportadoras Transnacional, em São Paulo, e Trans Expert, no Rio de Janeiro. Na ocasião, Álvaro Novis forneceu planilhas de controle e extratos dos pagamentos, além de gravações das conversas telefônicas que, por determinação da Comissão de Valores Mobiliários, a Hoya era obrigada a fazer e manter, as quais reforçam os indícios de que, de fato, houve o efetivo pagamento da propina. Álvaro Novis forneceu detalhes dos pagamentos que realizou, indicando datas e valores, além de identificar os portadores, encarregados de entregar as malas e mochilas com o dinheiro em espécie, os quais foram ouvidos como testemunhas pela Polícia Federal e confirmaram tudo em detalhes.
Dentre as provas entregues por Novis, há conversas telefônicas e diálogos por Skype indicando valores e endereços, dos quais se destaca, pela recorrência, o de Rodrigo Rincón, filho de Jayme Rincón, na rua Haddock Lobo, Jardim Paulista, região nobre de São Paulo, local para entregas de propina, principalmente aos policiais militares goianos Sérgio (assassinado no começo do ano em Anápolis) e Moura, ambos motoristas de Jayme.
As provas de corroboração obtidas pela Polícia Federal foram submetidas a perícia, as gravações foram transcritas e o computador contendo os diálogos de skype foi apreendido. Esse material foi analisado e cruzado com os extratos das ligações telefônicas dos investigados nas datas das entregas da propina, com suas respectivas localizações à época indicadas pelas antenas de celular e com passagens aéreas usadas por eles. Isso permitiu identificar 21 eventos de entregas de valores em espécie, no ano de 2014, que totalizam R$ 10,4 milhões, feitas a mando e por coordenação do Grupo Odebrecht em favor de Marconi (veja a tabela abaixo).
Segundo o MPF-GO, os indícios até então colhidos apontam que Marconi Perillo era o chefe do grupo. Jayme Rincon atuou como seu braço direito, mantendo contato com os executivos da Odebrecht e coordenando as atividades dos demais investigados, que tinham a função de buscar o dinheiro em São Paulo e trazê-lo de avião a Goiânia, atuando assim como uma espécie de preposto.
Há suspeitas de que parte do dinheiro foi usada para adquirir um veículo de luxo para Rodrigo Rincón, que à época era estudante e não possuía renda, no valor de R$ 170 mil, pagos em espécie. A compra foi realizada pouco depois de um dos eventos de entrega de propina.
Prisões
As prisões temporárias dos investigados, pelo prazo de cinco dias, foram pedidas para assegurar que não atrapalhem as investigações, destruindo ou forjando provas. A análise dos e-mails dos investigados, autorizada judicialmente, revelou que Jayme Rincón apagou propositalmente todos as mensagens do servidor em meados de 2016, logo após a deflagração da 26ª fase da Operação Lava Jato, que cumpriu mandado de busca e apreensão no apartamento da rua Haddock Lobo, de sua propriedade, onde seu filho morava e o principal local de recebimento da propina, o que indica tentativa de destruir provas. A análise dos e-mails revelou, ainda, que Jayme Rincón pagou R$ 24 mil, em dinheiro vivo, por um procedimento médico para o filho, o que indica ocultação de sua origem ilícita.
Fonte: Opopular